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Foto: Helena Chiarello - arquivo pessoal |
Há algo nessa coisa de chuva que me alaga a alma e me põe aqui, a tentar dizer quase sem conseguir manter a voz.
É só uma tarde que chove.
Mas é como se tudo se precipitasse dessa nuvem gigante que são os sentimentos. Nada sobra em seco no pensamento que está para lá de onde alcanço - que é onde pousa a intenção que me acolhe e aconchega.
Com os dedos embargados de distância, escrevo-te, confidente. A pensar em ti como um dia claro de sol. A não me entristecer por essa melancolia de ver o tempo molhando-se quase como um artifício de compaixão para algumas lágrimas que teimam - não de dor - mas comovidas nesse inventar palavras para disfarçar o que dizer a ti.
As gotas lá fora respingando indiferença e eu aqui a achar que podem arrefecer o calor, a sede - e isso tudo que quanto mais me falta, mais meu corpo pressente e arde.
Saboreio essa vontade que me traz inquietude e pressa, momento e gesto, sorriso e voz - juntando tudo numa febre que só o coração conhece. E provo-a devagar, absorta nessa tarde - de chuva, de pensamento, de imagens a nascer e a brilhar em poças de água - à espera de talento e palavras suficientes para conseguir dizer todas essas coisas que me inundam e ao mesmo tempo, inflamam.
Então escrevo-te assim - propositadamente ilógica - como a ansiedade em abolir o tempo.
E a tentar abreviar a distância, insisto o sonho, secreto e íntimo, de onde estás a colocar um sol - imenso antes de arder - nessa tarde que [lá fora] chove.
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Helena Chiarello
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(Escrito em 24/08/09)
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