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12/09/2009

Passado

Foto: Helena Chiarello - arquivo pessoal
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Do que eu diria ao passado já se apagaram os pormenores.
E talvez nada tenha a dizer.
Até porque algumas palavras já se tornaram
só um borrado indecifrável, como pensamentos articulados
pateticamente numa carta antiga que alguma coisa molhou
e o tempo se encarregou de secar.
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Houve um tempo em que até diria
                                                             [ao passado]

que ele não se deu conta de coisas importantes.
Não cuidou de lealdades, de trocas justas.
Escolheu facilidades, superficialidades,
emoções fúteis e disponibilidades.
Não valorizou dedicações
e fez pouco caso de sentimentos e sinceridades.
Até diria que seu engano maior foi menosprezar razões,
subestimar inteligências
e acreditar demais em si e no que julgou perenidade.Mas corre o tempo e tudo muda.
E há dias aos quais não se deseja voltar.
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O que tenho a dizer
                                                             [ao presente]

é tudo o que agora importa.


Já era hora de ser assim.
Já era hora de sorrisos e mãos dadas.
De falar sobre a maciez das coisas.
De ver claro e de frente, sem a luz ferir os olhos.
De caminhar suavemente pelas emoções,
sem raivas e sustos,
sem ironias escondidas em cantos escurecidos.

De fazer planos e esperanças,
de partilhar confianças e verdades.
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Já era hora de percorrer
                                                                    [o futuro]


como um caminho largo de amor e vida.
E de abraçar as felicidades que me fazem virar as costas,
tranquila e silenciosamente, àquela sombra que deixei pra trás.

Ao presente, dou certezas.
Ao futuro, mãos estendidas.
E ao passado, indiferenças e silêncios.
[Que é onde cabe tudo o que não precisa ser dito].
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Helena Chiarello
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