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21/11/2008

Carpe Diem


Foto: Helena Chiarello - arquivo pessoal
A vida é simples.
A alegria é simples.
O destino, mais simples ainda.
E a felicidade, somos nós que a fazemos.
Basta colocá-la onde queremos que esteja.
E basta estarmos onde ela está.
Carpe diem.

Porque, de inveja, o tempo voa.
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Helena Chiarello

15/11/2008

Acontecências...

Foto: Helena Chiarello

Algumas coisas acontecem de um jeito muito gostoso.
É uma lembrança que vem quietinha
e fica sorrindo no pensamento.
É um sorriso contagiante,
um abraço envolvente, um olhar acolhedor.
É a expectativa de momentos, projetos e sonhos.
Coisas gostosas de ver e sentir,
que fazem o dia ficar com aquele sabor
de alegria sem motivo.
Ou com o sabor de todos os motivos do mundo.
As lembranças, os sorrisos,
os abraços, os olhares e as esperas
são como gotas de chuva
numa tarde quente de verão.
Refrescam, animam, dão alento.
E por fim,
colorem o céu com um imenso arco-íris.
E o final dele pousa silenciosamente
bem no meio do coração da gente.
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Helena Chiarello
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14/11/2008

Felicidade

Foto: Helena Chiarello - arquivo pessoal

Ela chega sem aviso, num repente, como se espreitasse.
Uma surpresa, um telefonema,
um sorriso, uma palavra.
Felicidade.
Não sei dizer onde ela fica quando não está.
Não sei dizer o que ela é.
Mas sei reconhecer quando ela vem.
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Helena Chiarello
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12/11/2008

Coração... Peça de reposição?

Foto-montagem: Helena Chiarello

.__.___Às vezes fico pensando e até me ponho a rir diante de algumas ideias absurdas e divertidas que me vêm à mente.
______Passando, hoje, em frente a uma loja, olhei distraída para os objetos expostos na vitrine. Eram peças de reposição, de todos os tipos.
______Não parei para olhar, mas à passagem percebi que havia uma infinidade delas. Na maioria, de equipamentos eletrônicos. Todas arrumadinhas, com cartazes e etiquetas de preços e ofertas, em displays convidativos.
______Não consegui deixar de rir diante do pensamento: bem que poderia existir uma loja assim, para a reposição de “peças” que não funcionam bem no corpo humano. Uma loja atraente, colorida, bem decorada, com vários departamentos e solícitos atendentes prontos a te colocar nas mãos a “oferta do dia”.
______Acho que eu me divertiria muito passeando entre as estantes e expositores de uma loja assim. Adoraria visitar todas as sessões, mas, com certeza, me sentiria atraída especialmente para uma delas.
______Procuraria a sessão “coração”. Os de verdade.
______E os veria aos montes, de todos os tamanhos e tipos e para todas as necessidades. Estariam cuidadosamente organizados em sequência, alguns embrulhados em papel celofane, outros pendurados em móbiles atrativos, ou acomodados em caixinhas decoradas para presente.
______Eu pararia diante dessa diversidade e escolheria um.
______Primeiro, observaria atentamente se ele passou por um rigoroso controle de qualidade, que comprovasse e garantisse seu perfeito funcionamento.
______Depois, testaria sua durabilidade e capacidade de resistir a impactos.
______O próximo passo seria perceber-lhe a densidade. Teria que ser resistente, mas deveria ser também suave e macio. Obrigatoriamente pequeno para caber no peito, mas suficientemente grande para guardar uma infinidade de sentimentos bons. Um filtro seria um opcional importante, para permitir que se livrasse brevemente das coisas que entrassem nele e que poderiam insistir em permanecer lá dentro.
______Seria ótimo que, além de tudo, também tivesse uma versão com alarme, para avisar com um sonoro “bip” quando estivesse exposto a situações de perigo que pudessem vir a comprometer irremediavelmente a sua integridade.
______Iria exigir, por fim, um certificado de garantia. A qualquer falha, poderia ser imediatamente substituído por um modelo novinho em folha.
______Nem perguntaria o preço, porque pagaria seu peso em ouro. Na hora de embrulhar, o atendente perguntaria: para presente?
______Eu responderia: Não. É para uso próprio. Mas, por gentileza, coloque-o em uma embalagem longa vida. E à prova de lágrimas, decepções e dores...
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Helena Chiarello
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11/11/2008

Momento

Foto: Helena Chiarello - arquivo pessoal

Sempre ouço música, no carro, nos meus trajetos. Deixo as janelas fechadas, ligo o som, aumento o volume.

Gosto desses momentos de "silêncio do mundo". Fico a sós com a música e o pensamento. Às vezes, nem ouço o que toca, porque o volume do pensamento é maior. Outras, canto junto e o pensamento cala.


Hoje, entrei no carro, coloquei Fagner pra cantar. Adoro. Cliquei em "ordem aleatória". Queria uma música-surpresa. Tive duas. Fagner e Florbela Espanca. Ele gravou versos dela. “Fanatismo”, maravilhoso soneto. Musicado ficou ainda mais belo.


Cantei junto, mais alto do que de costume. Mudei o roteiro habitual, como se fizesse um passeio. Afastei-me do centro, do movimento. Peguei uma estrada de campo, dando de presente aos olhos a magnífica paisagem de estação.


Bem-estar, arrebatamento, momento feliz, intenso. Talvez culpa da música. Talvez do trajeto, inusitado e tão bonito. Talvez dos versos. Ou quem sabe, efeito de tudo isso junto?... Não sei. Mas talvez não importem os motivos. O que importa são as emoções que a vida, às vezes, põe de presente no coração da gente. Sem fazer força.


Continuei dirigindo e cantando. E quase tive a impressão de ouvir o coração cantando junto.


Helena Chiarello


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Fanatismo

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah ! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!..."

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(Fagner em poema de Florbela Espanca)

09/11/2008

Caixas e carinhos, guardados...

Foto: Helena Chiarello - arquivo pessoal

          Dia desses, resolvi fazer uma limpeza em alguns velhos guardados. Sabia que mexer naquelas caixas significava muito trabalho e já vinha adiando essa tarefa há algum tempo.

          Estava lendo alguma coisa sobre Feng-shui que recebi por e-mail. O Feng-shui é uma antiga arte chinesa que busca a harmonia e o sucesso dentro de um determinado ambiente, alcançadas através de certo tipo de energia que é a “força universal da vida”.

          Não entendi muito bem essa filosofia, até porque não procurei me aprofundar no assunto. Mas, por curiosidade, li o artigo. Era bem montado e interessante. Lá dizia que a primeira coisa que se faz quando se quer renovar energias, é desfazer-se de quinquilharias, doando, vendendo, jogando fora, enfim, livrando-se de tudo o que não tem utilidade na casa ou que não se precisa mais.

          Então, mãos à obra. Vamos renovar algumas energias. Abri uma velha caixa, me sentei no chão em frente a ela.

          Comecei a revirar o seu conteúdo com a intenção de jogar fora o que não precisava mais. O primeiro olhar sobre o que estava à minha frente me convenceu que esta não seria uma tarefa fácil.

          Entre as cartas, cartões e antigos convites havia um verdadeiro tesouro: quase uma centena de cartõezinhos e recadinhos confeccionados por meus filhos quando ainda mal sabiam escrever o próprio nome.
  
          Comecei a olhar, um por um...

          Quantas lembranças maravilhosas havia ali! Datas carinhosamente lembradas, declarações de amor, pequenos pedidos, situações engraçadas, algumas confissões de saudades antecipadas nos cartõezinhos feitos às pressas para se transformarem em pequenas surpresas no meio da minha bagagem quando saía em viagem e outros tantos momentos de forma tão encantadora registrados.

          Em cada palavrinha escrita, em cada coraçãozinho, florzinha ou animalzinho cuidadosamente desenhados, em cada versinho ou frase, revivi emocionada o momento inteiro do qual eles fizeram parte.

          Lembrei dos rostinhos sorridentes com que eles vinham portando aquela pequena relíquia que me seria entregue. Ouvi as vozes, os sons, senti os cheirinhos gostosos, recebi novamente todos os abraços e beijos como se estivesse lá, de novo, na infância deles.

          Fiquei horas nessa “tarefa”. Não tenho palavras para descrever a alegria que esse momento me trouxe. Fiquei imaginando como uma caixa tão pequena era capaz de conter tantas emoções e tantas histórias.

          Com exceção de alguns poucos postais e convites, não consegui colocar mais nada na pilha do que seria “jogado fora”.

          Aí pensei novamente na tal filosofia Feng-shui, tentando descobrir como eu poderia, já que havia me proposto a isso, renovar alguma coisa no que estava ali, à minha frente.

          Levantei-me do chão e das lembranças. Fui até uma loja e comprei uma nova caixa (a mais bonita que encontrei) para preservar por mais vários anos aqueles carinhos feitos de próprio punho pelas duas pessoas que mais amo na vida.

          Ajeitei tudo cuidadosamente na nova embalagem, pensando que a energia do amor que recebo deles diariamente é incrivelmente maior e que não necessitaria desse tipo de gesto para ser sentida e vivenciada, muito menos para ser lembrada.

          Mas pensei também que havia uma energia indispensável e maravilhosamente concreta naquelas pequenas provas de amor ali guardadas...
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Helena Chiarello
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08/11/2008

Nunca mais é tempo demais

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Gosto de pensar que as histórias têm apenas princípio e meio. Nunca um fim.
É bom pensar que as pessoas que o acaso afasta de nossas vidas não acenaram uma despedida. Apenas foram, e daqui a pouco estarão de volta.
Pensar assim engana o coração e serve de alento, porque faz com que não nos detenhamos no sofrimento, na saudade e na certeza de um “nunca mais”. Sem um aceno de despedida, ficam as sensações de incerteza
e de espera que dão a doce ilusão de continuidade.
Claro, é inevitável a saudade pelas ausências.
Muitas vezes as lembranças vão arrancar sorrisos disfarçados de “tá tudo bem”... Mas se algumas separações são necessárias ou inevitáveis, prefiro pensar esses momentos apenas como a pausa de um viajante que descansa à beira do caminho, sem saber exatamente para onde seguirá depois.
Não gosto de dizer adeus. Prefiro o “até algum dia”. Isso me permite parar exatamente no meio da história, sem o direito ou o dever de chegar ao fim. Porque todo final é triste.
Porque um “fim” pode significar um “nunca mais”.
E “nunca mais” é tempo demais...
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.Helena Chiarello

07/11/2008

E depois...


Quando a vida passar, eu vou poder dizer que tentei.
Tantas vezes que até me esqueço.

Vou poder dizer que coloquei,
em cada tentativa,
todas as primaveras possíveis.

E se, no final,
eu não chegar com os braços e o olhar floridos,
vou lembrar que meu coração cultivou jardins.

E vou sorrir,
ao sentir o aroma que ficou nas mãos.
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Helena Chiarello

06/11/2008

Definitivamente...


A minha memória é como um dia de chuva.
Se há uma rua deserta e gotas na vidraça embaçada,
há também o riso puro,
a alegria a escorrer na face
e a emoção criança,
em sua eterna teimosia de querer brincar no tempo...
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Helena Chiarello