É lenta a força que me leva adiante a tentar desfazer os dias, as palavras e os gestos, a desejar não me ferir mais uma vez nessa esperança em ruínas, a tentar esquecer de vez o custo, o peso e a agonia desse meu passo cansado de percorrer o amor de forma tão sincera, cuidadosa e vulnerável.
Mesmo assim insisto e vou, a disfarçar os tropeços e a tentar não me deixar abater pela certeza de que sempre haverá o espanto, a brisa fria das verdades tecidas, a propositada investida das vozes agudas a emudecer a minha e a espraiada ironia dos risos fáceis a apagar o meu.
(Se ao menos eu pudesse derramar sobre a razão, gota a gota, essa sensação que me faz covas no peito, talvez conseguisse, ainda uma vez, desenterrar a alma.)
Eu sei, talvez, que como o tempo, tudo passa.
Eu sei, talvez, que é só por hora que permaneço aqui, na estridência desse silêncio, a desviar os olhos dessa clareza cortante, a fingir que há um lugar onde os instantes se apagam e toda a memória adormece.
Mas e a dor, como se esquece?
Helena Chiarello
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